Oba, até que enfim o mundo mudou, o futuro chegou e vivemos um novo tempo.
Tudo está mais fácil, simples e rápido.
A tecnologia facilitou a comunicação, aproximou as pessoas e acelerou o processo de informação.
Basta um clique e pronto, simples assim.
A ordem do dia é eficiência, produtividade, estratégia, superação de metas, vencer desafios.
No novo tempo não se pode perder um minuto sequer, sem abrir mão, é claro, de ser feliz.
Para desfrutar de toda esta maravilha disponível, bastam pequenos ajustes em nosso comportamento, atitudes e conceitos.
Precisamos ser mais flexiveis, não temer o novo, encarar as mudanças com naturalidade e deixar para trás crenças, valores e dogmas, que não servem mais.
Está vendo como é fácil?
Para atender aos requisitos exigidos pelo novo senhor do universo "o mercado", precisamos estar antenados, desencanados e motivados sempre, custe o que custar.
É importante ser organizado, saber planejar, ter foco e aproveitar as dicas e sugestões dadas por "especialistas" em tempos modernos.
O engraçado é constatar que o mercado somos nós mesmos, só que "all together" e fantasiados de importância.
Os "especialistas" se formam pelo oportunismo de tentar explicar o inexplicável e usar novas terminologias, que quanto mais estranhas mais sucesso fazem.
E tome proatividade, empregabilidade, proficiência, eficácia, melhores práticas, salve-se quem puder. Tudo, como ouvi certa vez, um aconchambramento recorrente mas fundamental para os dias de hoje.
Qualquer pessoa, para ter sucesso, deve cuidar de sua carreira, estar em forma física, ter boa aparência, vestir-se adequadamente, ser emocionalmente estável, demonstrar autoconfiança sempre, ter entusiasmo sem exageros, saber trabalhar em equipe, atualizar-se sempre, se mostrar sem ser incoveniente, ser bem informado e estar "on line all the time".
Bem simples, não?
Não existe mais e somente, o horário normal de escritório.Graças a tecnologia, você está conectado 24 horas com o seu mundo profissional, que não quer saber se voce tem fome, sede, família, amigos, prazeres, uma vida lá fora.
Para ser valorizado você deve responder rapidamente e a qualquer hora.
Se já existe o banco 36 horas, porque não criar também o "kid rapidinho", o novo ser humano capaz de fazer um dia ter 36 ou 72 horas.(O tempo não para).
Para isto existem os i-phones, i-pads, i-pods, i-não podes, i-que saco, i-que vida difícil, i-que merda.
A "coisa" não para por ai, é fundamental ter uma vida social ativa, participar de congressos, cursos, eventos empresariais, pois pode ser que num desses, aconteça o contato de 4° grau, que vai mudar a sua vida profissional, amorosa, o escambal.
Por fim, mas não menos importante, existe a sua vida e voce precisa ir ao cinema, ao teatro, aos bares, baladas, ler os livros importantes, ver os familiares, encontrar os amigos e a pessoa que voce gosta, pois eles, alem de saberem de voce, precisam testemunhar o seu sucesso e a sua felicidade.(yeeehh!).
É uma agenda dificil e pesada, que se torna cada vez mais desumana.( É só pra super, hiper ou mega.)
O que poderia ser tranquilo e representar mais tempo livre para as pessoas, se torna um tormento, pois em vez de usar a tecnologia a seu favor, os homens estão medindo forças com ela e entre eles, através dela.
O que vale é bater recordes e mais recordes e ter as metas alcançadas no menor tempo possível.
O melhor profissional é aquele que fatura resultados nunca antes vistos. Não importa o stress gerado, os sacrifícios exigidos, nem as vidas roubadas.
Quem demonstra frieza de sentimentos e ausência de emoções vai sendo cada vez mais reconhecido.
No novo mercado não tem lugar para os "fracos" e sensíveis, só para os fortes e, no fundo, covardes.
Tudo tem que ser feito de forma perfeita, num piscar de olhos.
A competição frenética acaba tirando o prazer das coisas e criando um comportamento estranho.
Na ânsia de mostrar serviço e competência, as pessoas estão começando a mascarar realizações, números, conquistas e por ai vai, num jogo de faz de contas.
O grande instrumento de apoio é o"marketing sem noção", aquele que mostra o resultado planejado como se já tivesse sido alcançado; ou apresenta os números sem relacioná-los a um período de tempo; ou mostra resultados que vão acontecer em um período maior de tempo como se fossem somente do ano vigente; e, ainda, divulga resultados de pesquisas, que apontam performances que não foram, efetivamente, medidas.
Uma situação onde a versão sobrepõe ao fato, ou em que fica valendo o divulgado e não o real. (Parece mas não é ou me engana que eu gosto).
Desta forma, está todo mundo tentando impressionar todo mundo e a comunicação eletrônica contribui, pois possibilita os contatos virtuais, onde só o perfeito aparece.
Sem tempo é "on line" todos acabam forjando uma imagem irreal de si mesmos, mostrando somente o que interessa.
Estamos lendo e nos comunicando em 140 caracteres, formando e dando opiniões sobre qualquer coisa com base nessa estrutura rasa de informação e, o pior, passando uma imagem ou visão falsas. (Mundo do faz de conta ou o que conta é o que se diz que faz).
Nesta era da incerteza, é preciso colocar uma marca pessoal em tudo, ser o pai da criança e mostrar competência. Assim a primeira coisa a se fazer, em qualquer situação, sendo necessário ou não, é promover alguma mudança, mesmo que seja só o nome, de forma a garantir que o resultado conseguido tenha o "registro" do autor.
Quanto ao resultado em si, pouco importa, pois o marketing se encarrega de maquiá-lo e passar a ideia de que tudo melhorou e, ainda, de que nunca aconteceu antes na história.
Estão aí, diariamente, as propagandas e notícias enganosas para confirmar e disfarçar ao mesmo tempo.
Para garantir os princípios necessários ao sucesso e assegurar a felicidade prometida, nesses novos tempos onde o que falta é tempo, haja: calmantes, viagras, soníferos, laxantes, dietas, psiquiatras, psicólogos, médicos, medos, tarólogos, mães de santo, santos, anjos, curandeiros, agiotas, idiotas, bancos, dinheiro, padrinhos, malandros, favores, jeitinhos, bens materiais, aparência, representação, fingimentos, energéticos, vitaminas, professores, mestres, padres, pastores, rezas, orações, promessas, louvores, pagamentos, cobranças, propinas, roubos, personals, drogas, cracks, craques, cânceres, pressões, depressões, urticárias, inflamações, mau humor, avcs, infartos, traumas, raivas, decepções, sapos, enganos, lágrimas, dores, nojos, deslizes, mentiras, sofrimentos, desesperos, loucuras, estupros, mortes, assassinatos, acidentes, lamentos, frustações, falsidades, desesperanças e unha encravada. (Está bom ou você quer mais?)
Como ficam a pessoas nessa situação caótica?
Totalmente perdidas, desorientadas e tentando fazer o possível e o impossível para não perderem o trem bala da história.
Os exemplos estão aí no nosso dia a dia: "esfaqueou a colega por um amor platônico não correspondido"; "namoro pela internet termina em assalto e morte", "para se vingar da ex-esposa homem mata o filho e comete suicídio em seguida"; "ex aluno invade escola atirando e tira a vida de 12 jovens inocentes"; "no Brasil 1.200.000 adolescentes engravidam a cada ano", "motorista bêbado, na contramão, atropela e mata 6 pessoas";"mãe desesperada abadona filho recem nascido em lago".
O fato é que o mundo pirou de vez. Está a mil por hora em direção ao fim e muitos ainda pedem que se pise mais no acelerador.
Será que não haverá bom senso, juízo, responsabilidade e visão para parar essa insanidade coletiva.
Na expectativa de não surgir o remédio salvador, só me resta gritar por socorro e pedir que parem que eu quero descer.
Estou precisando me deitar numa rede, ficar olhando o ceu estrelado, numa noite de lua cheia, ouvindo uma boa música, daquelas que há muito tempo não se fazem mais, tomando uma cerveja gelada, tranquilamente, e refletindo sobre a minha vida....
"Será que ela ainda me ama depois de tudo?"
"Será que será possível recomeçar?"
"Existe alguma chance?"
"A música, a amizade e o amor, sobreviverão?"
"Tomara que sim!" "Deus é Pai."
Amigos, sinto muito, mas estou com muita saudade do passado.
Tragam uma Maria Fumaça, por favor, que eu quero voltar.
Amém