Para Don Mclean, autor de "American Pie", imortalizada por Madonna, a música morreu em 03 de fevereiro de 1959, quando um acidente aéreo matou Buddy Holly, Rictchie Valens e J.P. Richardson (Big Booper).
Buddy, o mais famoso dos três, é um dos pioneiros do Rock and Roll (Peggy Sue, That`ll be the day) e estava no auge de uma carreira iniciada há um ano, Richie era sucesso (La bamba, Donna) e Booper era conhecido por Chantilly Lace.
Raul Seixas preferiu dizer que foi o dia em que o Rock bateu as botas pois perdeu, precocemente, três influências importantes.
O fato é que a data ficou conhecida como ´"the day the music died". So bye, bye Miss American Pie....
Desta forma simbólica teremos muitas datas para lamentar a morte da música, com a ida pro andar de cima de muitos genios inesquecíveis.
O bacana é que sempre apareceram novos para renovar e seguir em frente com ela embalando os corações e mentes.
Sempre convivi com música e não preciso dizer o quanto gosto.
Lembro muito do meu pai, que possuia uma grande discoteca e dos discos sempre tocando na minha casa lá em Caeté .
Todo tipo de música, discos antigos, alguns que nunca mais esqueci. (Ray Conniff, Elizete Cardoso, Germano Mathias, Nat King Cole, Miltinho)
Havia também o rádio, outra fonte de sucessos e de belas canções.
Foi no rádio, não sei mais se em 1964 ou 1965, que fui apresentado à música verdadeiramente, quando chegando em casa do futebol, fui deixar a roupa suja no quarto dos fundos e, de repente ao passar, começou a tocar "Please, Please me" e eu fiquei paralizado, não acreditando no que ouvia, "eram eles."
Apesar de gostar de outras manifestações artísticas, a minha relação com a música sempre foi diferente.
Ela transmite emoção, conforto, paz, é quase uma terapia, digo quase, porque nunca fiz terapia. (risos).
Qualquer desconforto, ansiedade, não tem perdão, é botar uma música das boas e num instante estou revigorado e com o otimismo renovado.
Sou testemunha dos benefícios que a música proporciona às pessoas e de como ela torna a nossa vida melhor.
É uma das mais fortes manifestações humanas e carrega poderes terapeuticos, além de exercer fortes influências em nossa percepção e aprendizado.
Na antiguidade a relação com a música era muito mais forte e não mero entretenimento comercial como é hoje e nós não fazemos idéia dos "poderes musicais", dos quais, só aproveitamos uma pequena parcela.
Vi num livro antigo "Música e Psique - As formas musicais e os estados alterados da consciência" a mais bela definição sobre música: "É um eco do impulso da criação divina".
Sempre fui um "escutador de música", daqueles que sentam pra ouvir um disco e se concentram nele, música a música, curtindo e criticando ao mesmo tempo.
Quando gosto mais de uma, repito-a até me convencer ou não de que ela mereça a chance de entrar no meu ranking das preferidas.
Estas são aquelas que conseguiram chegar à condição de eternas. Que não me canso jamais de ouví-las, sempre com o mesmo prazer e emoção.
Existem outras que resistem algum tempo, mas acabam ficando pelo caminho, mas não deixam de ser boas e ouvidas de quando em vez.
Claro que tenho bandas, cantores e canções preferidos e eles são um prato cheio pra outro artigo, em outra oportunidade.
O fato é que o tempo me tornou mais eclético, flexível e tolerante, e hoje procuro escutar qualquer tipo de música, sem preconceito, apesar de reconhecer que existe uma grande quantidade de lixo musical espalhada por aí.
De qualquer forma estou mais zen e sou até capaz de apontar as melhores entre as piores.
Como nada é perfeito confesso que escutar Rap, Hip Hop, Axé e Sertanejo Pop, é duro e tenho sempre a sensação iminente (tudo a ver com o Eminen) de ter um infarto.
O fato é que dependendo do momento e situação, da pra se ouvir qualquer tipo de música, variando, é claro e muito, o tempo de escuta entre umas e outras.
A música é antes de tudo ritmo e está intimamente ligada às batidas do nosso coração, de onde se origina tudo.
Apesar de concordar com a importância do ritmo, o que admiro mesmo é a melodia e acho que ela fala por si e tem importância única.
É claro que quando está combinada com um ritmo legal e uma bela letra, forma algo espetacular.
A letra nem sempre sobrevive sozinha e, ao contrário, pode até deixar de ser percebida se a melodia e o ritmo não forem bons, nem adequados.
O bom da coisa é que a música não precisa ser rebuscada, nem muito trabalhada e, apesar de existirem belas canções e obras clássicas, acontecem músicas simples e até tolas que acabam funcionando como um grude, voce escuta uma vez, ela gruda, você assimila e, pronto, não sai mais da sua cabeça.
Na verdade o ponto essencial é que a "música" tem que ser boa e ai começa uma discussão eterna.
O que é música boa?
O que é lixo pra mim pode ser luxo pro outro e vice versa.
Tentando conciliar acho que música boa é aquela que fala ao coração, seja em que ritmo for e do jeito que for, pode ser brega, romântica, acelerada, apaixonada e, vá lá, eletrônica.
Pra chegar ao coração a música tem que emocionar e, ao meu ver, passar algo verdadeiro, positivo, transcendental.
Em outras palavras deixar a gente fora de si ou de mim mesmo. (Risos)
Eu que sempre fui roqueiro de primeira hora, pirei o cabeção uma vez, quando ouvi a música "Tocando em Frente" de Renato Teixeira e Almir Sater, na voz da Maria Betânia.
Engraçado que nenhum deles figuravam na minha agenda de artistas escutáveis.
Depois disto fiquei fã e acabei até votando nela como a melhor música brasileira do século XX. (Vai explicar).
Como John Lennon disse a respeito de Hey Jude feita pelo Paul, "Tocando em Frente" tem uma letra dos diabos de boa, e uma melodia linda.
Na realidade, por ser uma das mais fortes expressões do ser humano e fonte de comunicação universal, a música acaba refletindo momentos, situações e o "clima" vivido no mundo em diversas épocas.
Só para exemplificar, o período mais fértil da música brasileira foi durante a ditadura militar, quando a censura e repressão às manifestações de qualquer ordem contribuiram para a criatividade de poetas, escritores compositores e artistas em geral.
Nunca o país produziu tanto culturalmente.
Sou forçado a admitir que as situações difíceis ou de concorrência acirrada entre bons artistas contribuem muito para a criatividade.
Ao contrário, quando a situação é de baixa produção/qualidade o que se vê é uma inversão de valores e a mediocridade tomando conta geral, que nem hoje.
Desta forma a música tem uma influência e ao mesmo tempo faz uma leitura sobre a vida e a realidade dos povos e acompanha e influencia a caminhada do homem na terra.
Se isto for realmente verdade, é preocupante a conclusão de uma pesquisa realizada pela Universidade do Kentucky nos EUA, que através de psicólogos, analisou as letras das canções que estiveram no hit parade americano entre 1980 e 2007.
Ela constata uma crescente tendência ao narcisismo e a hostilidade.
As palavras "eu", "me" e "mim" aparecem com mais frequência junto a palavras relacionadas a raiva no último período, ao mesmo tempo, em que fica claro a queda no uso de "nós" e de expressões de emoções positivas.
Fica patente que a música de hoje fala menos de amor e mais de ódio e morte.
Comparando as realidades, as músicas dos anos 80 mostram que o amor era mais fácil e positivo e as músicas atuais retratam o desapontamento das pessoas por não conseguirem alcançar o que desejam.
Claro que não há fundamentação científica neste tipo de pesquisa, mas ela não deixa de ser um indicativo e algo a nos fazer pensar.
Será que até a música está pedindo socorro pela situação que vivemos?
Esta tendência verificada na inversão de papéis entre a melodia e a letra, com a última passando a ser mais realçada e a outra ficando relegada a um papel secundário, não será um sinal?
Afinal, as músicas atuais estão sendo, cada vez mais faladas do que cantadas, algumas até berradas, e os temas, na maioria das vezes, são sempre negativos.
O que sobressai é rancor, mal gosto e grossura.
Quem ainda está fazendo ou tentando fazer melodias de fato são compositores com 50, 40, 30 ou 20 anos de carreira, que ainda estão na estrada.
Eu como bom apreciador de melodias vejo que as boas canções estão ficando cada vez mais raras e dificeis, ou então, confesso, estou ficando velho e não entendo mais nada.
Pra mim não faz diferença, pois terei a sabedoria de recolher-me à minha feliz insignificância e vou curtir, sozinho e com quem quiser, os meus artistas preferidos e, desculpem o mal jeito, azar de quem não for da minha turma.
Mas falando sério e sendo sincero, ando preocupado com a situação.
Afinal o que está acontecendo com o mundo musical?
Falta inspiração? A situação está tão brava assim? Perdemos o dom? A beleza e a elegância foram pro saco? O tempo está menor? O que interessa é só afirmação e status? Acabou o senso crítico? Tudo tem que ser sempre rapidinho? Perdemos a capacidade de emocionar? Será que trilha sonora prejudica o desempenho? Música é só baticum? Desistimos de sonhar e de ter esperança? Ou o mundo despirocou de vez?
Amigos, na verdade, não gostaria de fazer mais perguntas, mas de ter as respostas e positivas.
Mas não tem jeito.
Será que o 03 de fevereiro de 1959 vai virar verdade?
Será que Don Maclean tinha razão?
Será o benedito ou o expedito?
PQP! A MÚSICA TAMBÉM TÁ MORRENDO?
Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro não deixe isto acontecer.
Help!
Let the music play.
Forever.