Estamos vivendo um momento estranho. O mundo está estranho.
Todos os dias nos deparamos com notícias cada vez mais surpreendentes. Em todos
os setores, seja no âmbito dos negócios ou na esfera do lazer. São notícias tristes
e notícias boas, porém, todas estranhas. Ao mesmo tempo em que evoluímos na
medicina e melhoramos as condições de vida da humanidade, assistimos anúncios
de guerra e surtos psicóticos seguidos de morte. Todos os anos são lançados no
mercado dispositivos cada vez mais avançados para uma comunicação global, porém,
esta comunicação nem sempre se mostra tão próxima. Diariamente, notícias de
corrupção sem solução em um país que não para de crescer, enquanto aqueles que
são livres do mesmo mal indo por água abaixo. São ações que não se batem. O que
será que está causando tudo isso?
Se voltarmos no tempo, veremos que muita coisa também não
batia. Há muito pouco tempo, as crianças jogavam bola nas ruas, as casas não
tinham muros e empresas de alarmes ainda não existiam, que “paz”! Porém, esta
concepção não é tão verdadeira. Quem dormia no berço da política, hoje mal
sucedida pelo histórico triste, era ninado ao som de pequenas guerras e somente
acordava para descarregar suas necessidades básicas nos cidadãos brasileiros.
Por outro lado, os pais das crianças, ou se calavam ou enfrentavam os
batalhões. Ainda por estas datas próximas, em outro país não tão distante,
guerra de um lado e paz, amor, sexo, drogas e rock n’ roll do outro. Duas ações
que também não se batiam. Sem dúvida, a sensação de “algo estranho no ar” devia
pairar sobre as cabeças dos praticantes de qualquer um desses atos.
Voltemos um pouco mais no tempo. Um planeta nas mãos de um
soldadinho de chumbo, com direito a bigodinho e ataques histéricos. Jovens se
atracando como loucos enquanto o soldadinho de chumbo alimentava sua nação, que
o idolatrava, com conceitos estéticos e preconceitos simplórios. E “num é” que
o mundo inteiro, governantes poderosos, nações sólidas e ricas encontraram
motivos, entraram de cabeça nesta babaquice e causaram a maior das badernas já
realizadas no planeta? Os japoneses que nos digam, devem ter achando bem
estranho!
E a primeira língua Brasileira? “Que dó, que dó” não deve ter
tido muito que fazer naquela época. Os criadores do tupi-guarani foram
dilacerados por um grande desbravador dos mares que não perdeu tempo. Quando
encontrou aquele povo rico em cultura e pobre em bens materiais foi logo
pegando o que interessava e acabando com tudo que não lhe era “útil”. Pegou
mulheres e pedras e dizimou cultura e paz. Ah, já ia me esquecendo, junto a
esta cultura lá se foi e primeira língua original brasileira. Não vamos chamar
de estranho tal atitude, afinal ele tinha seus motivos políticos e comerciais, aqui
podemos falar esquisito. Opa! Mas fazer
dos homens animais, da força física trabalho escravo! É, vamos voltar para o
estranho! Ou melhor! Muito esquisito e extremamente estranho!
Daí, podemos estender, relatando sem muito cronograma
temporal, aos absurdos impostos por anos e anos pela grande e poderosa igreja
católica que apedrejava “bruxas” e assassinava pensadores. Aos incapacitados
que perseguiram e crucificaram nosso eterno Jesus Cristo. Ao escravismo
africano que mais tarde se tornou racismo até se apresentar Nelson Mandela. As
condições cubanas com nosso famoso Chê. E todas as barbáries que hoje estão
impressas, nem sempre de forma realista, nos livros colegiais que educam nossas
crianças e adolescentes.
Tudo isso foi bem estranho não acham?
Bom, você deve estar se perguntando o porquê desta sessão
retro que me dispus a fazer. É que às vezes, quando reflito sobre o mundo hoje,
me pergunto se estamos evoluindo ou regredindo. Assim, coloco-me no lugar das
pessoas que viveram estas épocas e me encontro em situações parecidas, porém,
com características diferentes. Hoje, o estranho se apresenta em forma de
desafio. Nossa geração vive um momento em que muitas atitudes já foram tomadas,
muitos tabus já foram quebrados e muitas histórias já foram contadas. Temos o
privilégio de comparar épocas. Temos o privilégio de estudá-las e saber que não
podemos cometer os mesmos erros. Porém, outros erros hão de vir. Outros
preconceitos deverão ser quebrados. E assim construímos o planeta. Consertando
erros e procurando acertos. Na construção deste mundo não existe prevenção, o
que se faz é remediar. Não estaríamos sofrendo com poluição se os antigos já
não tivessem errado, portanto, não culpemos somente nossa geração. E o motivo
deste “erra-conserta-erra-conserta” é simples. O ser humano é capaz de viver
em anarquia? A resposta obvia seria não. Mas nós vivemos em uma. Em uma família
existe uma hierarquia, uma comissão organizadora. Assim como um condomínio, um
bairro, uma classe trabalhadora, uma cidade, um estado, um país. Mas e o
planeta? Está nas mãos de quem? Não vamos culpar Deus, pois ele não irá se
manifestar, portanto não teremos resposta. Vamos falar de matéria, de atitudes.
O fato é: Não existe uma organização que olhe para o conjunto social mais
complexo já conhecido pela humanidade como um todo e que tome atitudes
preventivas, e sim varias organizações confusas e pessoas fazendo o que bem
querem de suas vidas, e com todo direito.
O planeta está nas mãos de todos. Ele é construído com
tijolos individuais e todos nós trabalhamos nesta grande obra todos os dias.
Não há preconceito que impeça, não há classe excluída e nem alguém que imponha
se você pode ou não participar. Basta estar vivo para ser trabalhador do mundo.
Se você respira, de alguma forma contribui com um tijolo a mais, seja ele bem
ou mal colocado e ninguém está ali para te regular.
A anarquia é isso e existe desde que o mundo é mundo. E
existirá até o seu fim.
Porém, se compararmos as épocas, eu digo com muita certeza
que não estamos além dos limites já verificados. Prefiro conviver com
terroristas fundamentalistas a ser contemporâneo do soldadinho de chumbo.
Prefiro lidar com a corrupção a ser perseguido pelo governo por escrever este
texto. Prefiro ser infinitamente mais cobrado pela velocidade da informação a
ser obrigado a fazer aquilo que não gosto. Isso porque, se refletirmos a fundo,
perceberemos que há tempos existem terroristas fundamentalistas, sempre existiu
corrupção e, como não poderia deixar de ser, a chegada da TV, a revolução
industrial e outros momentos parecidos revolucionaram e transformaram, claro
que em proporções diferentes, a forma de trabalho e a cobrança física e
intelectual daqueles que faziam a época.
As preocupações são diferentes, os desafios são fortes e
difíceis, mas tudo que nos desafia hoje são vestígios do passado ou
necessidades de futuro que interferem de alguma forma no contexto geral. Temos que nos adequar e fazer valer a vida.
Temos que aprender a viver com sabedoria perante a anarquia global. As opções
de lazer são grandes, as belezas do planeta ainda estão vivas e prontas para
nos receber. As culturas estão mais próximas, as condições para vivenciá-las
também. Penso que nossa felicidade diária hoje, é uma grande recompensa de
nossos deveres como cidadãos de bem. É a nova lei, faça o bem e receba o bem,
pois fazendo mal, o mundo não suportará, além de trazer um triste fim individual.
Se a característica hoje é esta, já estou pronto para viver o imenso mundo
contemporâneo. Se estiver errado, terei que remediar mais tarde.
Finalizo este texto com uma bela passagem de Charles
Chaplin:
“A vida é uma peça de teatro que não permite
ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a
cortina se feche e a peça termine sem aplausos.”