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segunda-feira, 20 de junho de 2011

SÓ JESUS SALVA - Por Benjamin Collares

Olho no olho.
Aperto de mão.
Palavra de honra.
Vergonha na cara.
Até há bem pouco tempo essas atitudes eram respeitadas e muito valorizadas no nosso dia a dia.
Formavam um padrão de conduta que regia o comportamento das pessoas.
Os desobedientes se envergonhavam e quando não, pelo menos ficavam vermelhos.
Em algumas situações era comum pessoas chegarem até a atitudes extremas. 
Engraçado, que apesar de permanecerem no quotidiano, esses valores sofrem constantemente esvaziamentos, flexibilizações e uma denorexização interpretativa.
Denorex é aquele mesmo que parece mas não é. (Rs)
O interessante é que no mundo de hoje onde a comunicação ficou mais fácil e rápida seria natural o reforço desses valores.
Acontece que, como já comentei, a evolução tecnológica levou a sociedade para o caminho errado da busca de eficiência a qualquer custo.
Dai a deterioração das relações humanas foi uma consequência lógica e o desrespeito às pessoas virou fato comum e até incentivado.
Deu no que deu. Sem respeito e consideração às pessoas, a vida perde o sentido, qualidade e valores. 
Hoje fala-se muito em respeito a tudo, em se ter responsabilidade por tudo, mas a ação é sempre contrária e o mundo fica cada vez pior. (Ou vocês estão gostando do que está acontecendo?)
Nesse contexto estúpido, quem é intransigente na defesa desses princípios morais está sendo chamado de antiquado, conservador, reacionário e por ai vai.
Virou vergonha ser defensor das tradições e passou a ser considerado coisa "de direita".
Eu, que sou canhoto, acho estas posições ridículas e sem sentido.
O fato é que a ética não pode ser flexibilizada, ou se tem ou não.
Esse processo de afrouxamento moral começou de forma lenta e gradual, mas sempre com tendência de crescimento, infelizmente.
Hoje está consolidado e assistimos no dia a dia às maiores demonstrações de desfaçatez e cara de pau, sem o menor constrangimento e o pior, sem maiores protestos da sociedade.
Nem ficar vermelho se fica mais, parece que a cor saiu de moda.
A maioria correta passou a achar que não vale mais a pena lutar e os aproveitadores regozijam e deitam e rolam, rindo na nossa cara.
O exemplo que fica é que "se dar bem" é o que é importante, não importa como. 
O incrível é que além de ser executado à luz do dia na cara de todo mundo o mal feito passou até a ser justificado utilizando-se, para isso, interpretações distorcidas de preceitos morais e até religiosos.
O mais comum é o "é dando que se recebe", bela apologia à solidariedade, que passou a justificar trocas de favores e outros troca trocas. (rs)
O "amor com amor se paga" deu margem ao empreguismo de esposas, maridos, namoradas e amantes.
"Amai o próximo como a ti mesmo" significou ajudar irmãos, parentes, amigos do peito e o próprio, que sempre fica com um percentual.
Além das complicações do modo de vida moderno, outros fatores vem contribuindo para a grande expansão da velhacaria: a justiça continua lenta, parece que a tecnologia não chegou lá, e ao mesmo tempo o problema interpretativo começa a afetá-la também, pois como as leis no Brasil são dúbias, pode-se culpar ou inocentar, dependendo da interpretação que se dê a elas, o que favorece ao surgimento dos dois pesos e duas medidas.
A amizade, o companheirismo e estar do mesmo lado do poder são aspectos que também foram incorporados aos julgamentos e decisões, de forma que se a pessoa for um companheiro, muitas vezes isto basta para que ela não precise prestar esclarecimentos. Institucionalizaram o "sabe com quem está falando?" como prerrogativa de inocência e confirmaram que "os fins justificam os meios" sempre.
A mentira virou regra e passou a ser considerada estratégica em nome da governabilidade, estabilidade e sei mais lá o que.
Nesse quadro, a população se divide, uma parte adere ao procedimento vigente e a outra ignora, configurando um quadro perfeito para a expansão da malandragem, que encontra caminho livre e desobstruido.
Esse vazio moral, em parte, pode ser explicado pela anestesia da vida moderna que deixa as pessoas exaustas pelo trabalho árduo e os transtornos do dia a dia e oferece como descanso a TV e a Internet, como preparativos para o sono, que tem de ser rápido pois a rotina pesada do dia seguinte está vindo logo ali.
Com isto o ideal de vida para as pessoas passou a ser somente sobreviver e, se puder, obter coisas materiais, trazendo com isto um crescente e nefasto egoismo que se estabelece, cresce e permanece. Uma fonte permanente de insatisfação.  
Acabaram-se os sonhos. Não se têm mais causas, bandeiras que façam as pessoas se mobilizarem, irem as ruas, protestar, pedir, reclamar.
Perdeu-se a capacidade de se organizar, discutir e pensar junto.
Faltam propósitos mobilizadores e a esperança cedeu lugar à acomodação. 
Fico pensando se a minha geração e a antecessora a ela não exageraram na dose e provocaram uma revolução tão grande no mundo, lutando por liberdade, igualdade social, paz , amor e justiça social, que esgotaram as formas de protestos e provocaram transformações além do necessário. Será?
Ficou parecendo que depois de tudo o que foi feito, o mundo perdeu os limites e as referências, deixando a sensação de que tudo aconteceu e, ao mesmo tempo, nada mudou.
Uma grande ressaca e acordamos no mesmo beco sem saída, só que mais estreito.
O interessante é que não faltam causas para serem defendidas. Talvez estejamos vivendo o momento mais crítico de nossa vida na terra, com os perigos ambientais rondando a nossa porta, e um punhado de doidos à frente das nações e das discussões a esse respeito.
É óbvio que isto poderá ter consequências sérias para a nossa vida e o nosso futuro.
Assim, não dá mais pra se acomodar e fingir que não estamos vendo.
Precisamos reencontrar forças para vencer esse individualismo que nos domina e retomarmos, como uma sociedade de verdade, as rédeas de nossas vidas, de forma a permitir novamente sonhos e desejos  pelas coisas que de fato nos completam e nos realizam plenamente.
Primeiro será preciso arrumar a casa.
Chega de tolerância com esse lero lero, disse me disse, fingimentos, elocubrações e jogadas pra plateia desses sanguessugas que estão acabando com a decência e a moralidade nesse país. 
Precisamos dar o exemplo para poder cobrar melhor dos outros.
Li recentemente e concordo que o nosso grande propósito, nessa passagem pela terra, é encontrar o verdadeiro sentido da vida.
Por isto mesmo, chega de ficar girando em círculos sem saber pra onde ir.
Precisamos reencontrar com Deus, urgentemente.
Talvez isto explique a confusão e o desnorteamento em que nos metemos.  

terça-feira, 7 de junho de 2011

GENTE É BOM, DEMAIS ATRAPALHA - Por Benjamin Collares

"... Eu nasci em Caeté."
"Que isso! Que cidade você foi escolher pra nascer." "Ir lá é um risco constante."
"Concordo, ô estradinha miserável, mas tem outra por Sabará."
"Deus me livre, aquela é muito curvada. Tem curvas em que você vê até a placa trazeira do carro. Tô fora."
"Além disto, quê que tem pra se ver e fazer em Caeté que compense esse risco todo?"
"Agora, você me pegou de jeito." 
"Acho que venceu, vou mudar a minha cidade natal no facebook."
 
Que coisa maravilhosa esse facebook, você muda de perfil, muda de amigo, muda de cidade, muda o que você gosta e o que não gosta.
Vou tirar Caeté do meu perfil e indicar outra cidade natal.
Se perguntarem por quê, digo que cansei de nascer em Caeté e decidi nascer em outro lugar. (risos)
 
Seria ótimo se tudo pudesse ser resolvido dessa maneira, vocês não acham?
 
A minha cidade não vive os seus melhores dias e ainda dá um azar danado quando aparece no noticiário.
A famosa BR 381, conhecida como a rodovia da morte, porque mata mais do que se desvia dinheiro nesse país, passa por um punhado de cidades, mas já está associada a Caeté.
Por quê?
Toda notícia no rádio, tv ou jornais a manchete é assim: "Mais um acidente grave na BR 381 próximo ao trevo de Caeté".
Parece marcação, os caras da imprensa estão de má vontade, ou os projetistas capricharam nos erros nas próximidades do trevo de Caeté, ou, então os motoristas combinam de perder a atenção perto de Caeté. (É muita sacanagem junta).
Um amigo até acha que o conceito de próximo é um pouco mais longe, quando diz respeito ao trevo de Caeté.
Parece verdade, pois não é que com a queda da ponte do Rio das Velhas já estão tirando casquinhas na reputação da minha cidade e já tem gente pensando que a ponte é "próxima" a Caeté. (Risos)
 
É triste, mas Caeté, assim como muitas outras cidade, perdeu sua referência histórica, a importância econômica que tinha, a consistência cultural, sua vida social.
Perdeu o espírito de cidade.
Acomodou-se com os 15 anos de agonia da única indústria que tinha e não criou alternativas de sobrevivência.
Dormiu no ponto e acabou virando uma "cidade dormitório", num beco sem saída.  
Aliás, no Brasil de hoje, as cidades estão ficando assim, sem identidade, maltratadas e mal amadas.
 
O interessante é que nem sempre foi assim.
Cidade histórica do ciclo do ouro, Caeté tinha uma indústria forte que garantia uma vida digna para todos.
Outra sorte, é que a empresa era francesa e muitos franceses foram viver na cidade.
Assim foi possível aos caeteenses usufruir também da  cultura daquele país.
Na empresa havia uma preocupação social e era garantido saúde, moradia e educação para todos.
A boa situação ecomômica também contribuiu para o crescimento das atividades comerciais e de serviços.
Lembro-me bem, quando garoto, que no natal, todos os filhos dos empregados da empresa recebiam presentes, distribuidos por faixa de idade e sempre o mesmo para todas as crianças.
Era uma bela confraternização.  
 
Mas não foi no aspecto econômico que o benefício foi maior.
Caeté fervia culturalmente.
A maioria das pessoas, além de trabalhar na mesma empresa, estudava nas mesmas escolas, frequentava os mesmos clubes e lugares e tinha as mesmas informações.
Isto garantia, de alguma forma, oportunidades para todos e uma convivência democrática.
  
Vivi toda a minha infância, adoslescência e o início dos tempos de adulto lá, ou morando por um grande período ou ficando doido pra voltar nos finais de semana, todos pra variar.
A cidade era um moto contínuo de criatividade, iniciativas, divertimento e aprendizado.
Grupos de teatro, de dança, bailes com artistas famosos, shows, grupos de rock locais, concursos literários, jornais, festival de inverno, encenações ao vivo na semana santa, campeonatos de voley, futebol e futebol de salão disputadíssimos com muitas equipes locais, carnavais inesquecíveis, banda de música, desfiles memoráveis no dia da pátria e dos trabalhadores, escritores e uma vitória inesquecível no programa "Mineiros Frente a Frente" promovido pela saudosa Tv Itacolomi, que promovia disputas entre cidades mineiras. Foi Campeã! Que orgulho!
 
Sem egoísmo Caeté recebia muitos visitantes e eu arrisco a dizer que foi a cidade mais festeira da RMBH.
O exemplo mais marcante que ouvi do quanto ela foi importante na vida de quem teve a felicidade de viver lá nesse período, foi numa reunião recente de ex colegas de turma do "Ginásio José Brandão', que saudade, com o comentário do meu amigo Américo sobre a afirmação de um outro colega nosso José Antônio, que, num dia de inspiração, resumiu tudo: " Eu só fui conhecer o mar aos 23 anos, porque Caeté me bastava."
 
Descobri, na casa da minha mãe, dois livros sobre a cidade escritos por Arthur Lima Júnior, um chamado, justamente, "O que há para se ver em Caeté." de 1969 e o outro "Saudade em Retalhos - História de Caeté, de 1979.
 
Em ambos encontramos um roteiro turístico da antiga Vila Nova da Rainha e a reverência e referência à pessoas e fatos que contribuiram para a sua história.
Aliás, fazendo um parênteses, que nome mais bonito tinha a minha cidade; "VILA NOVA DA RAINHA", com todo respeito que tenho por Caeté, se algum dia pudesse, lutaria para retornar o antigo nome.
 
O fato é que as lutas, sonhos e realizações de muitas pessoas não podem ter sido em vão.
Não podemos esquecer o que fizeram os Josés, Antônios, Terezas, Marias, Gláucias, Mirthes, Lourdes, Ledas, Joaquins, Joãos, Veras, Geraldos, Romeus, Aparecidas, Jairs, Raimundos, Tiãos, Valdirs, Júlios, Mários, Paulos, Fernandos, Joaquins, ..., muitos outros, além dos Beijos e as Idas. 
 
Os pontos turísticos mencionadas ainda encontram-se lá, prontos para serem trabalhados e divulgados.
Quer beleza maior do que a Serra da Piedade, que hoje ainda conta com o observatório da UFMG, a grande quantidade de lagos e cachoeiras, a vocação da cidade para o turismo de aventura, as igrejas e as construções históricas.
O mais belo nascer da lua que já vi, é lá do alto da Serra da Piedade.
 
Os seus lugares, ruas, bandas, jornais, tipos populares de nomes pitorescos e inesquecíveis: Pito Aceso, Alto do Quenta Sol, Quebra, Mundéus, Santa Frutuosa, Morgan, Berra Lobo, Pedra Branca, Morro Serrote, Vila Rato, Vila das Flores, Beco dos Aflitos, Morro Vermelho, Emboabas, Maracatu, Potoca, Quitandinha, Rua do Gambá, Quatro Cantos, Penha, Penedia, Bairro Europeu, Bairro Americano, Rua do Mato Dentro, Pontinho, Bar do Inhô, Bar Cantinho do Céu,Bar do Zé Cutucum, Bar do Tonico, Bar do Coquinho, Bar do Zé Leite, Bar do Leblon, Saps, Zé de Quita, Vasquinho , Estrelinha, Miami, Funcionários, Ferro Brasileiro, Arca, Coral Vilela, Banda Dura, Sac, Sem Compromisso, Funchas News, Opinião, A Pinga, MUG, Dis is a Uil, O Rabicó, Álamos, The Seven Boys, Elvira Papagaio, Lizena, Tilau, Nonô Doido, Tanin, Zé Pataca, Salomé, minha querida pracinha Getúlio Vargas, Nico Preto, Flávio Cuica e Xexéu.   
 
Caeté precisa despertar desse marasmo que a paralisou, ir em frente em favor de um projeto de recuperação de seu potencial econômico, cultural e turístico e redescobrir o passado glorioso que teve.
 
Para isto será preciso dedicação, união das pessoas e muita motivação, que pode ser encontrada justamente no movimento em favor da duplicação da BR 381, seguramente, o maior obstáculo para o desenvolvimento da cidade.
 
A situação da estrada já deixou de ser calamidade pública pra virar caso de polícia.
Não se concebe uma rodovia matar tanto, por tanto tempo, impunimente.
 
Interessante que em 1969, pelas condições da época, a BR 381 parecia ótima conforme descrição do livro: " A viagem é calma, em asfalto novo, com algumas curvas, mas sem perigo, com a tranquilidade de ótima sinalização como guia seguro."
Claro, havia menos gente, a cidade era menor, poucos carros circulando e os ônibus e trens eram os meios de transporte mais utilizados.
 
O segundo grande obstáculo ao desenvolvimento de Caeté, de outras cidades e do país é o egoísmo e a passividade das pessoas em relação ao que está ocorrendo em volta delas, o que, em última análise, mostra que a solidariedade e a democracia encontram-se em cheque, motivadas por uma mistura de desânimo e cansaço das pessoas pela opressão da vida "moderna". 
 
Assim, talvez o contraste entre o passado glorioso e o presente complicado da minha cidade natal , possa nos fazer refletir sobre a situação atual.  
 
As questões ligadas à economia, à infraestrutura, ao bem estar social e ao meio ambiente nos remetem a uma pergunta básica, que não está sendo levada tão a sério nas discussões e análises sobre o nosso futuro: Não tá passando da hora de enxergarmos que já tem gente demais no planeta e consequentemente, nas cidades, já que as taxas de urbanização são altíssimas?
 
Se pensarmos que cada ser humano é um consumidor de energia e esse será o principal problema a ser enfrentado nos próximos anos, junto a outro do mesmo calibre, que é o abastecimento e o consumo de água, tudo num contexto de recuperação do equilibrio ambiental, veremos que com menos gente teremos mais chances. 
 
Não tem escapatória, é matemático, tudo tem limite.                                                                                                                                                                     
 
Chegou a hora da responsabilidade de se estabelecer um rigoroso controle de natalidade em nível mundial para o bem de todos.
 
É claro que nessa situação conturbada que vivemos hoje, em que os egos estão inflados e as disputas são por qualquer coisa, não será fácil o consenso para uma decisão dessa magnitude. Postergá-la, no entanto, é uma covardia com a nossa terrinha. 
 
Nesa perspectiva, a recuperação de Caeté fica parecendo coisa bem mais fácil e simples de ser feita, não é mesmo?
 
Mais do que nunca, camisinha sempre!