Olho no olho.
Aperto de mão.
Palavra de honra.
Vergonha na cara.
Até há bem pouco tempo essas atitudes eram respeitadas e muito valorizadas no nosso dia a dia.
Formavam um padrão de conduta que regia o comportamento das pessoas.
Os desobedientes se envergonhavam e quando não, pelo menos ficavam vermelhos.
Em algumas situações era comum pessoas chegarem até a atitudes extremas.
Engraçado, que apesar de permanecerem no quotidiano, esses valores sofrem constantemente esvaziamentos, flexibilizações e uma denorexização interpretativa.
Denorex é aquele mesmo que parece mas não é. (Rs)
O interessante é que no mundo de hoje onde a comunicação ficou mais fácil e rápida seria natural o reforço desses valores.
Acontece que, como já comentei, a evolução tecnológica levou a sociedade para o caminho errado da busca de eficiência a qualquer custo.
Dai a deterioração das relações humanas foi uma consequência lógica e o desrespeito às pessoas virou fato comum e até incentivado.
Deu no que deu. Sem respeito e consideração às pessoas, a vida perde o sentido, qualidade e valores.
Hoje fala-se muito em respeito a tudo, em se ter responsabilidade por tudo, mas a ação é sempre contrária e o mundo fica cada vez pior. (Ou vocês estão gostando do que está acontecendo?)
Nesse contexto estúpido, quem é intransigente na defesa desses princípios morais está sendo chamado de antiquado, conservador, reacionário e por ai vai.
Virou vergonha ser defensor das tradições e passou a ser considerado coisa "de direita".
Eu, que sou canhoto, acho estas posições ridículas e sem sentido.
O fato é que a ética não pode ser flexibilizada, ou se tem ou não.
Esse processo de afrouxamento moral começou de forma lenta e gradual, mas sempre com tendência de crescimento, infelizmente.
Hoje está consolidado e assistimos no dia a dia às maiores demonstrações de desfaçatez e cara de pau, sem o menor constrangimento e o pior, sem maiores protestos da sociedade.
Nem ficar vermelho se fica mais, parece que a cor saiu de moda.
A maioria correta passou a achar que não vale mais a pena lutar e os aproveitadores regozijam e deitam e rolam, rindo na nossa cara.
O exemplo que fica é que "se dar bem" é o que é importante, não importa como.
O incrível é que além de ser executado à luz do dia na cara de todo mundo o mal feito passou até a ser justificado utilizando-se, para isso, interpretações distorcidas de preceitos morais e até religiosos.
O mais comum é o "é dando que se recebe", bela apologia à solidariedade, que passou a justificar trocas de favores e outros troca trocas. (rs)
O "amor com amor se paga" deu margem ao empreguismo de esposas, maridos, namoradas e amantes.
"Amai o próximo como a ti mesmo" significou ajudar irmãos, parentes, amigos do peito e o próprio, que sempre fica com um percentual.
Além das complicações do modo de vida moderno, outros fatores vem contribuindo para a grande expansão da velhacaria: a justiça continua lenta, parece que a tecnologia não chegou lá, e ao mesmo tempo o problema interpretativo começa a afetá-la também, pois como as leis no Brasil são dúbias, pode-se culpar ou inocentar, dependendo da interpretação que se dê a elas, o que favorece ao surgimento dos dois pesos e duas medidas.
A amizade, o companheirismo e estar do mesmo lado do poder são aspectos que também foram incorporados aos julgamentos e decisões, de forma que se a pessoa for um companheiro, muitas vezes isto basta para que ela não precise prestar esclarecimentos. Institucionalizaram o "sabe com quem está falando?" como prerrogativa de inocência e confirmaram que "os fins justificam os meios" sempre.
A mentira virou regra e passou a ser considerada estratégica em nome da governabilidade, estabilidade e sei mais lá o que.
Nesse quadro, a população se divide, uma parte adere ao procedimento vigente e a outra ignora, configurando um quadro perfeito para a expansão da malandragem, que encontra caminho livre e desobstruido.
Esse vazio moral, em parte, pode ser explicado pela anestesia da vida moderna que deixa as pessoas exaustas pelo trabalho árduo e os transtornos do dia a dia e oferece como descanso a TV e a Internet, como preparativos para o sono, que tem de ser rápido pois a rotina pesada do dia seguinte está vindo logo ali.
Com isto o ideal de vida para as pessoas passou a ser somente sobreviver e, se puder, obter coisas materiais, trazendo com isto um crescente e nefasto egoismo que se estabelece, cresce e permanece. Uma fonte permanente de insatisfação.
Acabaram-se os sonhos. Não se têm mais causas, bandeiras que façam as pessoas se mobilizarem, irem as ruas, protestar, pedir, reclamar.
Perdeu-se a capacidade de se organizar, discutir e pensar junto.
Faltam propósitos mobilizadores e a esperança cedeu lugar à acomodação.
Fico pensando se a minha geração e a antecessora a ela não exageraram na dose e provocaram uma revolução tão grande no mundo, lutando por liberdade, igualdade social, paz , amor e justiça social, que esgotaram as formas de protestos e provocaram transformações além do necessário. Será?
Ficou parecendo que depois de tudo o que foi feito, o mundo perdeu os limites e as referências, deixando a sensação de que tudo aconteceu e, ao mesmo tempo, nada mudou.
Uma grande ressaca e acordamos no mesmo beco sem saída, só que mais estreito.
O interessante é que não faltam causas para serem defendidas. Talvez estejamos vivendo o momento mais crítico de nossa vida na terra, com os perigos ambientais rondando a nossa porta, e um punhado de doidos à frente das nações e das discussões a esse respeito.
É óbvio que isto poderá ter consequências sérias para a nossa vida e o nosso futuro.
Assim, não dá mais pra se acomodar e fingir que não estamos vendo.
Precisamos reencontrar forças para vencer esse individualismo que nos domina e retomarmos, como uma sociedade de verdade, as rédeas de nossas vidas, de forma a permitir novamente sonhos e desejos pelas coisas que de fato nos completam e nos realizam plenamente.
Primeiro será preciso arrumar a casa.
Chega de tolerância com esse lero lero, disse me disse, fingimentos, elocubrações e jogadas pra plateia desses sanguessugas que estão acabando com a decência e a moralidade nesse país.
Precisamos dar o exemplo para poder cobrar melhor dos outros.
Li recentemente e concordo que o nosso grande propósito, nessa passagem pela terra, é encontrar o verdadeiro sentido da vida.
Por isto mesmo, chega de ficar girando em círculos sem saber pra onde ir.
Precisamos reencontrar com Deus, urgentemente.
Talvez isto explique a confusão e o desnorteamento em que nos metemos.